"Como eu já tinha comentado, meu primeiro e muito importante contato com a minha nova fase foi a Ana Saraiva. Ela me deu esperança, compaixão, fraternidade, informação, luz e tantas e tantas outras coisas.. ela me mostrou muitas coisas e que agora, eu entendo o porque.. Porque ela é especial! É guerreira, linda e vence todos os dias suas lutas. Vive, Ama e Acredita! Ela me mostra que todas as fases são necessárias e que todas valem a pena! Segue um pouco da história dela e espero que possa ajudar muitos como me ajudou!" Renata Moraes
Olá!
Chamo-me Ana
Saraiva, sou de Portugal e tenho 25 anos.
A história entre
a Dermatomiosite e eu começou quando tinha 12 anos.
Estava na escola,
numa aula de educação física, a correr, quando senti uma dor forte num músculo
da perna, parecia que me estavam a espetar agulhas bem fundo.
Nos dias a
seguir, durante uma semana, apareceu-me uma mancha na face, por baixo do olho
(gênero de uma picada de mosquito), que começou a inchar muito até tapar o
olho. Nessa altura fui há minha pediatra e ela receitou-me uma pomada há base
de cortisona que ainda me fez piorar mais. Nos dias seguintes comecei a sentir
um estranho cansaço a andar e a fazer o meu dia-a-dia.
Como não passava e a
cada dia estava pior, tanto a nível da pele como do cansaço, (que os meus pais
pensavam ser mimo e ser uma desculpa para andar ao colinho) a minha mãe,
através de uma antiga amiga e patroa- D. Helena Pedreiro, a quem hoje agradeço
imenso pela ajuda que nos deu- levou-me a uma médica (Doutora Ana Moreno) no
Hospital da Universidade de Coimbra, há unidade de Dermatologia. Mal me viu, a
doutora, desconfiou de dermatomiosite e assim sendo mandou-me fazer exames na
manhã do dia seguinte.
Passou-se tudo muito rápido e tive de ser logo internada
no hospital, pois os exames diagnosticaram mesmo a Dermatomiosite. Fiquei lá
internada durante 12 dias. Todos os dias fiz exames diferentes… fui como se diz
“um ratinho de laboratório”, uma cobaia para os alunos de medicina e para os
próprios médicos do hospital, pois tratava-se de uma doença muito rara. Entrei
naquele hospital pelo meu próprio pé e sem tomar nenhum medicamento… saí de lá
quase sem conseguir andar e a tomar corticoides e outros medicamentos.
Passados
uns meses, como a minha doença não melhorava, a Doutora Ana (excelente
dermatologista, ótima pessoa e com um enorme coração), aconselhou-me a ir a uma
consulta ao pediátrico de Coimbra com um Reumatologista, o Doutor Manuel
Salgado - a quem agradeço muito tudo o que fez por mim, tenho imensa confiança
no seu trabalho, é um excelente médico, uma pessoa extraordinária, tem um
otimismo que ajuda qualquer doente crônico a superar as maiores dificuldades.
Agradeço-lhe a vida que posso fazer hoje! Nesta nova fase o médico optou por
iniciar um tratamento há base de hemoglobinas.
No primeiro ano fiz o tratamento
uma vez por mês em que tinha o medicamento a correr no cateter durante 12 horas
seguidas. Nos dois dias seguintes não conseguia ir há escola porque ficava
muito enjoada e só tinha vontade de vomitar. Ficava com febre e muito mole.
Juntamente com este tratamento comecei também a fazer o metotrexato injetável
(por ser uma dose muito elevada) uma vez por semana (tive sorte em ter um casal
amigo de enfermeiros que foram incansáveis comigo) e continuei com o corticoide
e com o folicil.
No segundo ano já fiz o tratamento de 2 em 2 meses e no
terceiro ano fiz só duas vezes de 3 em 3 meses. As melhoras foram excelentes. O
medicamento fez mesmo milagres. Eu voltei a andar normalmente, voltei a tomar
banho e a vestir-me sozinha, a pentear-me e a levantar-me sozinha do sofá!
Coisas que nos 3 primeiros anos da doença deixei de fazer sozinha.
Uma vez,
quando estava sozinha em casa, há hora do lanche quis ir ao frigorífico buscar
um lanche… dei um mau jeito, desequilibrei-me e cai no chão… tentei de tudo
para me levantar e não consegui. Rastejei até há parede e fiquei lá durante
horas até que o meu pai chegou do trabalho e me ajudou a levantar.
Durante
muito tempo, quase todas as almofadas da casa eram minhas, pois só com elas a
fazerem altura no sofá é que eu me conseguia levantar sozinha.
Outra coisa
muito difícil de suportar ao longo desses anos foram as erupções cutâneas que
me foram aparecendo nas articulações e na face. As que mais me custaram foram
as dos cotovelos. Abriram-se feridas horríveis, fundas, que deitavam pus e uma
espécie de pedrinhas. Estas feridas formavam uma crosta grossa e rija. Foram
dores horríveis, nem as camisolas eu aguentava. O pior de tudo é que nada
ajudava a que essas feridas sarassem.
Os anos seguintes foram diferentes uns
dos outros. Entre redução de medicação a aumento, entre sarar feridas e criar
outras as coisas foram-se recompondo. Cheguei também a fazer um tratamento de
acupuntura que ajudou nas melhoras.
Quando fiz os 18 anos, atingi a maioridade,
tive de deixar as consultas de reumatologia no pediatra e passar para a
reumatologia do Hospital da Universidade de Coimbra. O médico reumatologista
que me começou a seguir foi o Doutor Luís Inês- excelente médico que me
acompanhou numa fase bem diferente, a fase em que já estava mais crescida e em
que as preocupações já eram outras. A partir desta idade não houveram grandes
recaídas.
Neste momento estou com 25 anos e faço a minha vida normal.
Já tirei
o meu curso, sou licenciada em Design de Equipamento, já consigo fazer tudo
sozinha no meu dia-a-dia.
Todos estes anos, a cima de tudo, serviram para eu
aprender muito…para aprender que somos mais fortes do que o que pensamos, que
temos pessoas que nos amam estejamos nos com 10 ou 100 kilos, lindos ou feios,
bem dispostos ou mal dispostos, a correr ou numa cadeira de rodas. Só quem
passa por estas coisas ou quem vive demasiado perto de nós consegue perceber o
quanto custa não podermos pentear o cabelo, ficar em casa enquanto as amigas
vão sair para as festas, entre muitas mais coisas banais.
O que mais me ajudou
a suportar estas fases todas foi a fé que a minha mãe me ensinou a ter, a
esperança que os meus médicos me deram, o carinho e boa disposição do meu pai,
o profissionalismo dos meus 3 médicos, o apoio incondicional dos meus 2 irmãos,
a amizade das minhas cunhadas, a alegria contagiante das minhas sobrinhas, o
amor e compreensão do meu namorado e a ajuda de todos os meus amigos e
familiares mais próximos.
Aqui falei só um pouco do que foram estes 13 anos de
dermatomiosite, pois é impossível descrever todos os pormenores em tão poucas
palavras.
Sem dúvida que estes anos davam um bom livro.
Como última parte, mas
não menos importante, quero falar da “Amiga do Brasil”, a Renata!
Foi uma ajuda
tão boa! Saber que existe alguém que nos entende a 100%, que sabe aquilo por
que passamos, que sabe o tamanho da nossa dor mas também o tamanho da nossa
alegria quando conseguimos fazer o simples gesto de atar o cabelo…
Vou guardar as suas mensagens com muito carinho e gratidão!
Vou guardar as suas mensagens com muito carinho e gratidão!
Obrigada pela oportunidade que
me está a dar de partilhar a minha história juntamente com a sua. Espero ajudar
com este testemunho!
Um grande beijinho